23 de abril de 2009





A Cátedra Unisul Participação e Solidariedade está atenta a práticas que anunciam um novo tempo. Na Unisul, uma prática vai tomando conta das mentes mais desenvolvidas e espíritos verdadeiramente sintonizados com a "massa de consciência" que clama por transformações inspiradas na ideia de que um mundo melhor é possível!
Na Universidade do Sul de Santa Catarina, a Profa. Abegail Miranda vem coordenando a ação exemplar de substituir o trote que tem por base a humilhação e a agressividade, por outro cujos resultados ninguém se envergonha no dia seguinte. Felicitações à Profa. Abegail por sua iniciativa e parabéns aos brilhantes calouros da Unisul!







17 de abril de 2009

Artigo publicado no jornal A NOTÍCIA
em 25 de março de 2009. N° 353Alerta


Inclusão excludente, por Valdete Daufemback*

Tem dias que acordo com o espírito weberiano: “Saudades daquilo que não foi”. E tem se tornado frequente, sempre que leio jornais e assisto à TV, pois a ideia de um mundo com menos desigualdades econômicas parece distante, se comparada aos ideais dos movimentos sociais do século 20, quando não se duvidava da utopia de ver acontecer uma distribuição de renda menos perversa, sem precisar apelar ao sistema de parcerias para requerer inclusão social.A inclusão social é um conceito neoliberal cunhado para legitimar a concentração de renda do sistema capitalista e negar a possibilidade de novas formas de conduta social sem ser pelas vias da exclusão e inclusão. O discurso da inclusão social virou um grande negócio e movimenta muito dinheiro para alimentar uma rede de empregos de não-excluídos que gerenciam programas e projetos.Nestes vinte anos de vigência da Constituição, a soma dos esforços dos organismos nacionais e internacionais dentro da nova ordem mundial do sistema público e privado, as redes de solidariedade, a responsabilidade social, a disseminação de valores éticos, a política de afirmação positiva e tantos outros mecanismos destinados ao alcance da cidadania plena parecem ter efeitos semelhantes aos diques em costas de mar agitado, pois o número de pessoas que estão abaixo da linha de pobreza não para de subir.No Brasil são 17 milhões de pobres. É muito para um país com uma economia respeitável no mundo dos negócios internacionais. Revela a tremenda concentração de renda operando no sentido inverso do discurso da inclusão, pois sem distribuição de renda, é tímida a possibilidade de reduzir as desigualdades sociais.A inclusão social é uma questão de justiça. E não é preciso recorrer às teorias econômicas para entender que justiça social e livre mercado não se sustentam mutuamente.Com o processo de globalização e os novos desafios de desenvolvimento econômico, uma nova agenda teórica se desenha para estimular acertos vinculados ao setor produtivo e arranjos institucionais de agentes públicos e privados com estratégias de “concertação social”, um complexo sistema de governança, incluindo instituições intermediárias entre o Estado e o mercado para gerenciar o desenvolvimento socioeconômico.Porém, neste novo desenho, os órgãos institucionais acabam pactuando com a política das empresas privadas, geralmente multinacional, o que revela prevalecer o domínio da vontade da economia externa.Por outro lado, os países com poucos grupos politicamente organizados e consolidados encontram grandes dificuldades em ajustar-se a esta lógica complexa de políticas públicas implantadas para atender às exigências das agências internacionais de financiamento, as quais consideram os direitos sociais e a democracia, requisitos para uma economia sustentada.Então, a questão da redução da pobreza e da inclusão social, na economia de mercado, é mais complexa do que a retórica verbal de otimismo pelas vias de receitas ingênuas da constituição de parcerias para preparar o trabalhador excluído da economia. Inclusão social implica acesso à renda.A democratização à informação não significa apenas ter acesso ao computador. Não há democracia que sobreviva às desigualdades sociais, à má distribuição de renda.A inclusão social depende da capacidade das políticas governistas de decisões e de negociações nas esferas dos três poderes, por isso depende inclusive da motivação das lideranças políticas que estão no poder.Além do mais, para evitar uma discussão sobre a vergonhosa concentração de renda no País, tem-se o hábito de acusar o analfabetismo digital como responsável pelo desemprego. Assim, a responsabilidade recai sobre a sociedade para encontrar soluções paliativas a um problema que tem causas econômicas desde que o Brasil é Brasil.Sociedade de informação não significa ter um computador ou fazer um curso básico para lidar com esta ferramenta a fim de ser incluído socialmente pelo trabalho. Este discurso “funcional” durkheimiano do século 19 não dá conta para explicar a necessidade de acesso ao conhecimento, não somente no campo da domesticação tecnológica, mas de ter uma compreensão satisfatória da ciência, da política, para ter assento nas decisões do País.E isto não se consegue com apelo discursivo de inclusão social pela vontade de parcerias entre o público e privado, pois, de acordo com Weber, desde a origem do capitalismo está presente a aliança entre o poder e a finança.


vdaufen@terra.com.br
*Mestre em história cultural e professora de sociologia em Joinville